Refracções

domingo, 23 de março de 2008

Algumas questões - Deus...


Numa época de devoção tão fremente como a Páscoa é sempre bom pensar um pouco acerca do que nos envolve.

E nada dos cerca, nos rodeia e nos conforta tanto como a ideia de Deus.

De uma entidade consciente que nos seus braços compassivos nos acalenta a esperança...

Muito se fala acerca da vontade de Deus, da sua palavra e das suas acções... Muita gente, por pergaminhos humanos, brame a vontade divina.

Mas será que com razão?
Ou pelo menos mais razão do que aquela turba que ouve?

Será que ouvir a sua vontade é dar voz a alguns pensamentos e calar outros? Ouvir os mais bondosos e ignorar os mais perversos e ignóbeis?

Pois esses são do seu eterno rival - Satanás, Diabo, Lucífer, Baal... Tanto nome para uma só linha pensamento e de acção.


Será?


Será que Deus na sua perfeição, mais que um ser puramente compassivo e terno, não é um ser completo?

Um ser que avalia o bem e o mal, e age mediante a sua escolha... "escrevendo por linhas tortas".


Será que o mal não é ele também uma face do bem, já que sem ele o bem não o seria.

Será que o seu nemesis não é de facto ele mesmo, sobre outra luz?


E não seremos nós realmente "à sua imagem"?


Pensemos um pouco, se pensar for a tua vontade, até porque raramente temos tempo num mundo em que muito se faz e pouco se pensa...

A nossa vida já foi sacrificada à nascença a bem da sociedade, que a todos rege e que a ninguém obedece...


Pensemos...

E uma boa Páscoa a todos, que nos encha os nossos coração com aquilo que ansiamos.

Beijinhos e abraços,

Jeust

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Impermanência...

Um pouco ao jeito do post anterior, tenho pensado algo acerca do carácter temporário do próprio tempo, e da vida...

Afinal até há quem o considere uma ilusão.

Mas a verdade é que de um instante ao seguinte, mesmo que tudo surja igual aos nossos olhos, silenciosas mudanças ocorreram no que nos escapa.
Na nossa percepção, em nós, no objecto que apreendemos...

Nada permanece igual de um momento ao seguinte.

Tudo muda...


E assim escrevi estas frases, que espero sejam do vosso agrado...


"A mesma lágrima dourando ao sol sobre o precipício da cascata no momento seguinte mergulha no fragor da rebentação."


"Na vida nada é permanente. Nem o amor, nem o ódio... O mesmo amor converte-se em ódio e o ódio em amor."


Que me levou a considerar, após mais alguma reflexão que...


"Na vida a única certeza é a partida."


Porque no correr da peça, que no fundo a existência é, os risos e choros, o ardor e mortificação, a glória e a desonra, recortam-se e entrecortam-se mutuamente.

Dependendo o sentimento apenas da agitação momentânea.

Tudo sucedendo-se vertiginosamente à velocidade da vida.

E talvez do destino e das forças que o regem...

Será que existem?


Não? Sim? No fundo ninguém sabe... mas sabe-se que o passado molda o presente e o presente o futuro, mas o nosso papel na representação das eras, isso, ninguém o conhece.

Mas todos temos a nossa ideia sobre ele não é?


Por isso continuemos a imaginá-lo com os nossos próprios tons... Uns mais rosas, outros violáceos... Cada um há sua própria maneira.


Beijinhos e abraços,

Jeust

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Pensamentos Avulsos

Eu, apesar de nos últimos dias não digitar nada, ando envolto nos meus pensamentos, nos meus trabalhos, pequenos e grandes, e nas possibilidades da vida.


Dessas incursões tirei umas conclusões e umas frases, que apesar de parcas, espero que possam invocar o sentido que jaz para lá das palavras...

Espero que gostem...


"O futuro é terra de ninguém..."


"Avivar o fogo que crepita na lareira ilumina e aquece a ampla sala, por vezes silenciosa, outras ruidosa, mas nunca vazia."


"Para um fim há sempre mais que um caminho, mas a cada caminho o seu cansaço."


"Eu não invejo nada. Invejar é negar o esforço."


Comentem se quiserem... :p

Beijinhos e abraços,

Jeust

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Senhor do Tempo

- Eu conheço o passado, assim como o presente.... Viajo nas suas ruínas e construo apartir delas. Sou a sombra e a luz. Sou o que fui... e sou. - cogita o mendigo - E o futuro? Esse não o sinto...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Uma citação...

...Acerca do amor


"Because that's what people do. They leap, and hope to God they can fly, because otherwise you just drop like a rock, wondering the whole way down, why in the *hell* did I jump?" [sic]

Em português e em tradução livre:

Porque é o que as pessoas fazem. Elas saltam, e pedem a Deus que possam voar, porque de outro modo caís como uma pedra, pensando enquanto te precipitas, porque diabo eu saltei?


Um pensamento que traduz o risco de amar... De tentar aquilo que não temos e nunca possuiremos mas gostamos de partilhar, de sentir e, em última medida, ser.

E numa sociedade tão devota da vitória e da conquista, tão avessa à derrota e ao derrotado, é um elogio e uma justa homenagem a quem tenta, mesmo que a sorte não sorria... e o sentimento de vergonha, de ridículo nos tome soluçando.


O texto foi retirado da obra Hitch . Um filme que recomendo a todos, se se sentirem tentados... :p

Beijinhos e abraços...

Jeust

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Estes dias...

Por entre luares quebrados
e sombras trémulas,
o presente foge...
o coração aperta
e a realidade sufoca.

Ser...
assumir uma ideia,
na falência de outra,
escolher um passadiço
para o sonho...
ou pelo menos para longe,
longe da tempestade fremente
de um purgatório pessoal.

Lutar por valores
estrangeiros e desconhecidos,
por posses que não as minhas,
por poder e presunção
que tamanha satisfação!

Vestindo trajes emprestados
com a satisfação de não ser...
o despido,
mas também o trajado,
apenas a escuridão oculta.

Rumar na vida
na direcção da dor?
ou do prazer?
da vontade
ou da satisfação?

Lutar por que sonho?

Se o sonho
é a diversão da alma,
presente,
mas não futura...
A noite mas não o dia.

Qual o designío
mais verdadeiro de todos?

A liberdade
da escravidão quotidiana?

A renúncia ao sonho gritado
e o abraço ao asceta?

Qual?

Se de parcialidades se vive,
se sentem...
aquecem e sossegam o corpo,
inquietam o coração e alma,
cómodamente...

E momentos mastigamos
repetida e continuamente,
passando...
passando o tempo,
esperando o que vem.

Provando frutos
doces e amargos,
mas sempre impotentes,
sempre incapazes
de nos saciar...

Somos o efémero
e vivemos para a brevidade,
para o perene e perecido,
ainda mais frágil
mais descarnado
que a curta caminhada.

Viciados no seu próprio jogo
de sombras e seguranças,
de ilusões e esperanças,
murmurando a morte
na face da existência tributada.

Meros soldados de chumbo
presos a uma guerra tribal,
de anciãos e feiticeiros,
de pedras filosofais
e de armaduras encantadas.

Somos a encarnação
do nosso anseio,
sussurado no berço
acalentado no passo,
idolatrado na palavra.

Somos...
mas o que somos?

Um grão de areia
na praia da existência,
esquecido,
ora encontrado
ora perdido.

Por vezes o primeiro,
por vezes o último,
sempre tacteando
entre iguais
desiguais...

Carregando as cadeias
da existência
da nossa
da vossa
da deles,
continuamente...
protegendo,
destruindo
ideais...

Assim somos...
Mas não poderemos ser mais?

Talvez...

Nolens,
volens.





31-01-2007


Eis um pequeno extracto da minha vida... e das minhas dúvidas, das minhas crenças, bem como das minhas descrenças.

Mais que um registo diário ou temporal, é um registo intemporal dos movimentos da alma - os seus turbilhões e turbas exaltadas, a sua fremência bem como a sua morte - é uma imagem de vida.

Sem rostos nem máscaras, apenas as pulsões, as sensações, as emoções, as descobertas que esforçam os músculos...

A comoção de contornos esbatidos.

Espero que tenhas gostado...

Beijinhos e abraços,

Jeust

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O reino dos deuses...

No budismo existe a crença em diversos mundos e planos de existência, que bem ao jeito das concepções modernas de Paraíso e Inferno cristãos, podem ser considerados como estados de espírito e consciência.

O plano mais elevado é chamado o "Reino dos Deuses", equiparada ao Paraíso, onde, fruto de um karma excelente, somos deleitados com uma vida verdadeiramente beatífica.

Um sonho de luxo epicurista e sensualista, sem os fardos da dor nem do sofrimento... até que a decadência conquista a face do prazer.

Aí, estigmatizado pela sua condição mortal e perante a repulsa dos outros deuses, também eles ignorantes e predestinados ao tormento, jaz o deus só no seu sofrimento moribundo. Condenado pela sua felicidade à agonia inesperada do abandono e da morte.

Uma boa analogia à forma como muitos de nós vivemos as nossas vidas não?

Como deuses... até que a morte bate à porta, e somos mendigos indigentes.


Se tiveres curiosidade em aprofundar estas alegorias, visita Budismo Tibetano .

Espero que esta pequena incursão pela filosofia oriental tenha sido do teu interesse...

Beijinhos e abraços,

Jeust