Refracções: janeiro 2008

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Estes dias...

Por entre luares quebrados
e sombras trémulas,
o presente foge...
o coração aperta
e a realidade sufoca.

Ser...
assumir uma ideia,
na falência de outra,
escolher um passadiço
para o sonho...
ou pelo menos para longe,
longe da tempestade fremente
de um purgatório pessoal.

Lutar por valores
estrangeiros e desconhecidos,
por posses que não as minhas,
por poder e presunção
que tamanha satisfação!

Vestindo trajes emprestados
com a satisfação de não ser...
o despido,
mas também o trajado,
apenas a escuridão oculta.

Rumar na vida
na direcção da dor?
ou do prazer?
da vontade
ou da satisfação?

Lutar por que sonho?

Se o sonho
é a diversão da alma,
presente,
mas não futura...
A noite mas não o dia.

Qual o designío
mais verdadeiro de todos?

A liberdade
da escravidão quotidiana?

A renúncia ao sonho gritado
e o abraço ao asceta?

Qual?

Se de parcialidades se vive,
se sentem...
aquecem e sossegam o corpo,
inquietam o coração e alma,
cómodamente...

E momentos mastigamos
repetida e continuamente,
passando...
passando o tempo,
esperando o que vem.

Provando frutos
doces e amargos,
mas sempre impotentes,
sempre incapazes
de nos saciar...

Somos o efémero
e vivemos para a brevidade,
para o perene e perecido,
ainda mais frágil
mais descarnado
que a curta caminhada.

Viciados no seu próprio jogo
de sombras e seguranças,
de ilusões e esperanças,
murmurando a morte
na face da existência tributada.

Meros soldados de chumbo
presos a uma guerra tribal,
de anciãos e feiticeiros,
de pedras filosofais
e de armaduras encantadas.

Somos a encarnação
do nosso anseio,
sussurado no berço
acalentado no passo,
idolatrado na palavra.

Somos...
mas o que somos?

Um grão de areia
na praia da existência,
esquecido,
ora encontrado
ora perdido.

Por vezes o primeiro,
por vezes o último,
sempre tacteando
entre iguais
desiguais...

Carregando as cadeias
da existência
da nossa
da vossa
da deles,
continuamente...
protegendo,
destruindo
ideais...

Assim somos...
Mas não poderemos ser mais?

Talvez...

Nolens,
volens.





31-01-2007


Eis um pequeno extracto da minha vida... e das minhas dúvidas, das minhas crenças, bem como das minhas descrenças.

Mais que um registo diário ou temporal, é um registo intemporal dos movimentos da alma - os seus turbilhões e turbas exaltadas, a sua fremência bem como a sua morte - é uma imagem de vida.

Sem rostos nem máscaras, apenas as pulsões, as sensações, as emoções, as descobertas que esforçam os músculos...

A comoção de contornos esbatidos.

Espero que tenhas gostado...

Beijinhos e abraços,

Jeust

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O reino dos deuses...

No budismo existe a crença em diversos mundos e planos de existência, que bem ao jeito das concepções modernas de Paraíso e Inferno cristãos, podem ser considerados como estados de espírito e consciência.

O plano mais elevado é chamado o "Reino dos Deuses", equiparada ao Paraíso, onde, fruto de um karma excelente, somos deleitados com uma vida verdadeiramente beatífica.

Um sonho de luxo epicurista e sensualista, sem os fardos da dor nem do sofrimento... até que a decadência conquista a face do prazer.

Aí, estigmatizado pela sua condição mortal e perante a repulsa dos outros deuses, também eles ignorantes e predestinados ao tormento, jaz o deus só no seu sofrimento moribundo. Condenado pela sua felicidade à agonia inesperada do abandono e da morte.

Uma boa analogia à forma como muitos de nós vivemos as nossas vidas não?

Como deuses... até que a morte bate à porta, e somos mendigos indigentes.


Se tiveres curiosidade em aprofundar estas alegorias, visita Budismo Tibetano .

Espero que esta pequena incursão pela filosofia oriental tenha sido do teu interesse...

Beijinhos e abraços,

Jeust

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Existir...


Nascer
Aprender
Crescer
Sonhar
Morrer.

Ser
Sonhar
Evoluir
Ser
Mudar
Renunciar
Viver...

Morrer
Sonhar
Evoluir
Crescer
Renascer.

Caminhar
Viver
Ser
Renascer
Sonhar
Renunciar
Evoluir
Ser.

Ser
Ser
Ser
Morrer
Renascer
Sonhar
Ser.

Morrer
Viver
Morrer
Renascer
Sonhar
Morrer.

Nascer
Morrer
Sonhar
Viver
Ser...

E nestes pequenos quadros
vivemos e morremos de novo,
vezes sem conta
nas areias do tempo,
sempre em movimento,
sempre correndo
do principio para o infinito
incansáveis e belos.

Somos tudo
e no fundo...
nada.

Somos a face
sempre jovem do tempo.

8/01/2008

Na vida nós somos tudo para ser o nada...

Somos a história escrita num pergaminho assim como as palavras, as ideias condensadas num pensamento, e a pedra atirada a uma janela.

Somos as partes de uma existência, unidas num todo tão quebrado e retalhado, que ninguém o reconhece...

Somos a história e a ilusão, o encanto e a devoção... somos tudo o que existe, o vísivel e o inteligível, e o nada, o nada que consome tudo.

Somos...

Jeust

Beijinhos e abraços...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Justiça Natural

Geralmente concebemos a Justiça como uma ideia indissociável da moral e da ética, governado por estes dogmas... Mas será que é mesmo assim?

Será um sensação inata da ordem natural ou devida das coisas? Uma forma de lhes dar um sentido, de as hierarquizar e as normalizar?

De perceber e segurar o mundo, e sentir-se seguro nele?

Talvez...

Talvez sim... talvez não...

Talvez a Justiça esteja mais intrínsecamente relacionada com o livre arbítrio, a liberdade que consumimos...

Talvez seja a decisão em função da capacidade, não "a lei do mais forte", mas a lei do possível, impossível e do real. A regra que segue as hipóteses que se põem a cada momento, e as que abraçamos.

Uma justiça amoral talvez... mas intensamente eficaz.

Que ordena o mundo em função da hipótese e da sua concretização... Dos actos e dos seus efeitos... da causa e do efeito.

Uma Témis sem venda, e atenta ao passado e ao presente, com um sorriso nos lábios doce e mortal.

Talvez... mas só talvez... :p


Beijinhos e abraços,

Jeust