Refracções: julho 2010

domingo, 11 de julho de 2010

O Caminho do Mendigo

No tempo dos grandes reinos exóticos do Oriente, numa estrada de terra e pó sobre o calor abrasador da tarde, um mendigo fazia a sua jornada penosa para um sítio incerto.

Todos os caminhantes que por ele passavam, ora ignoravam-no ora olhavam-no com repulsa. As crianças atiravam-lhe pedras. E ele, continuava a caminhar.

Dois deuses, companheiros e amigos, do alto da sua grandeza e poder, fitavam-no. Um deles, intrigado com tamanho sofrimento pergunta ao outro:

- Porque sofre este homem tanto? Porque tamanhas provações tem ele de passar?

O seu companheiro, silencioso na sua resposta, fez aparecer um diamante, tão grande e precioso capaz de alimentar o pobre e a sua família durante várias gerações, no regaço do caminho.

O indigente andando pesadamente apoiado no seu varapau, desloca-se até ao tesouro, e detém-se, para a curiosidade de ambos os espectadores. Olha-o com os seus olhos cansados e desabridos... e continua para o seu destino.

O deus curioso, compreende então a sua lição. E o diamante desaparece misteriosamente.


Jeust

domingo, 4 de julho de 2010

Immortality

"Once the King. Once the fool."

- We're alike you and I. We're all parts to play in this play, you see.

Then he swings from one balcony to the next, playful. Out of reach...

- Friends before, now enemies! Maybe lovers in the next one. Such are the thrills of life.



Jeust

sábado, 3 de julho de 2010

Neófito

De parto difícil
apartado da mãe
nascido para o mundo.



Poema da Folha

Sem uma
das suas metades
não é completa.

Pousada em muros
esquecidos pelo tempo.

Submergida na lama
do rasto do pneu.

Resguardada no sossego
do canto de uma velha porta.

Afastada pela violência
de uma bota apressada.

Atirada pela vassoura
para o meio da rua.

Deitada contra o vidro
de uma janela fechada.

Desfeita pelos dedos
meticulosos e cansados.

Dançando suavemente
na brisa da tarde.

Nadando na água tépida
do riacho.

Aniquilada pelos dentes
sôfregos e implacáveis.

Aí jaz a folha.

Aí, jazem as folhas.



A folha, tal como qualquer remanescência de vida, encontra-se dançando na existência.

Jeust