Refracções

sábado, 3 de julho de 2010

Neófito

De parto difícil
apartado da mãe
nascido para o mundo.



Poema da Folha

Sem uma
das suas metades
não é completa.

Pousada em muros
esquecidos pelo tempo.

Submergida na lama
do rasto do pneu.

Resguardada no sossego
do canto de uma velha porta.

Afastada pela violência
de uma bota apressada.

Atirada pela vassoura
para o meio da rua.

Deitada contra o vidro
de uma janela fechada.

Desfeita pelos dedos
meticulosos e cansados.

Dançando suavemente
na brisa da tarde.

Nadando na água tépida
do riacho.

Aniquilada pelos dentes
sôfregos e implacáveis.

Aí jaz a folha.

Aí, jazem as folhas.



A folha, tal como qualquer remanescência de vida, encontra-se dançando na existência.

Jeust


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Azanagi e Azanami

Dois filhos do céu, a oriente nascidos, sob o toldo das estrelas e sobre manto da solidão, envoltos em sensibilidade.

Descendentes dos mesmos sonhos, irmãos, e personagens de tragédia, cumprindo o desejo invocado, trazendo a luz a um mundo escuro.

De filhos, a irmãos, de irmãos a pais de uma nação. Criadores de terra, apartir da água, e vida apartir do pó.

Mas dentro do tempo tudo passa, e o pouco que fica se escapa, e assim a morte apartou Azanami de Azanagi.

O deus solitário, só na sua presença e mágoa, jurou romper com as linhas do esboço dirigido do destino, e trazer à vida o que a morte lhe tinha roubado.

Decidido desceu pelo submundo, cada vez mais negro e assustador, em busca de seu amor, procurou e procurou até que o encontrou. Falou-lhe de sua dor, da sua solidão, contou-lhe o egoísmo que a implorava para si.

Azanami, ouvindo o seu coração bater, pela primeira vez desde que morreu para o mundo dos vivos, pediu a Azanagi para esperar, enquanto rogava pela sua forma à ordem que a acorrentava naquele lugar.

Comovido pelo amor dos dois, o destino nada podia argumentar, e deixou a alma ascender à superfície, enquanto o seu corpo regressava da morte.

Azanami conhecendo a natureza mundana de Azanagi, rogou para não a olhar até à luz do sol os cobrisse aos dois.

Ele assentiu ao pedido invulgar, ébrio de alegria, até que a luz entrecortada se assumiu na distância, quando a curiosidade foi mais forte que o seu voto, e olhou para a sua consorte, regresssando da morte, e o amor gelou. Assustado pela visão que os seus olhos lhe davam a ver, fugiu aterrado.

Azanami, destroçada e furiosa, correu atrás de Azanagi para o matar, antes de se escapar das trevas, mas o destino assim não o deixou.

Sem razão de viver, ferida e magoada, Azanami deixou-se ficar só na escuridão, jurando ao outrora seu amor, matar mil dos seus descendentes em cada novo dia, ao qual o deus retorquiu que faria nascer outros mil e quinhentos.

Assim a Morte permeia toda a criação, escolhendo indistintamente os mortos entre os vivos, perpetuando pelos tempos a vingança de um amor.




Dedicado a ti Frankie, na côr que tu tanto adoras, com os votos de que melhores rápidamente, e o teu aniversário seja um dia de mais alegria do que de tristeza. Um momento que abarque nas tuas lágrimas salgadas a alegria do amor.

Jeust

quarta-feira, 28 de abril de 2010

The Verve - Lucky Man



Every music is like a mirror, and people see in it what they want to see. That's what beautiful about words but also their demise, since it's difficult to transmit an objective message.

To me this music symbolizes the fact that attraction is born from the senses, but love is born from one's mind, and generally from attraction.

And when we love ourselves in our minds it can last as long as the mind continues to exist, contrary to when we place it in something exterior to us.

And it also speaks of the impermanence of happiness - a change -, and the fact that we decide what makes us happy. The love of a fair maiden, the acceptance and love of oneself...

And he feels a lucky man with fire in his hands, because he feel that he discovered it for himself, and he discovered the freedom in happiness and love.

That's my interpretation. Where my mind's at.

(Esta é a minha interpretação da música, submetida em Sing365.com.)

Jeust

domingo, 11 de abril de 2010

Forgotten...

And what if what we learn is what we've forgotten in the first place?

The common knowledge that binds us, but we only find glimpses time and time again, when our mental chains are at their weakest.

In this life nothing is certain, but we can always question and look for the answers of our questions.




quinta-feira, 8 de abril de 2010

O tempo...

O tempo voa, porque nunca pára.

Cada momento é um uma memória.

Ora ausente,
Ora presente,
Ora esquecida.

Tudo passa, e as estações mudam...
Levando o tempo, com elas.


terça-feira, 6 de abril de 2010

Prenúncio de Morte

A agitação...
A insubmissão ao futuro,
a rebeldia perante o rumor
próximo e expectante.

O cansaço...
Os membros exaustos,
o corpo aquietando,
preparando o desfecho.

A aceitação.
A consciência viva,
o medo que se esvai,
a calma que perspassa.

Apenas mais uma partida
na alma eternamente viajante.


No tempo do medo, da confusão e da ignorância, onde uns fogem da morte, outros a chamam, e alguns esperam a sua chegada, convém pensá-la, para não viver na sua sombra.

Muitas teorias a explicam e a descrevem, mas nenhum ser vivo a experimentou, embora alguns tenham já subido ao seu pórtico, e a ouvido, mas poucos são o que o dizem.

A morte, tal como o nascimento, ocorre a todos os seres que vivem, e a sua inevitável chegada é tão natural como o vento, que se escapa por qualquer fenda e anuncia a mudança de estação.

Jeust